segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Mutação - Parte 1: Sua Natureza e classificação

Para mim é de longe o principal fator evolutivo, portanto abordaremos aqui o que é e a sua importância para a evolução. Está postagem será dividida em duas partes: a primeira sobre especificamente sobre as mutações e a segunda sobre a importância para a Evolução.

A mutação nada mais é do que um erro na replicação do DNA que a enzima DNA polimerase comete ao adicionar os nucleotídeos na nova fita de DNA que está sendo formada. Por isso foi discutido qual a natureza do material genético, bem como a sua replicação. Estima-se que a DNA polimerase erra a cada 109 a 1010 nucleotídeos que ela adiciona, e ainda possui um sistema de reparo. Pois é, parece pouco. Mas imagine quantas divisões celulares estão ocorrendo numa colônia bacteriana, fúngica, ou até mesmo dentro de ti ou de outro eucarionte.

Por que ocorrem estes erros? Há fatores físicos (como radiação UV) e agentes químicos que alteram a estrutura das bases nitrogenadas ou que interagem com a DNA polimerase, modificando sua estrutura e funcionamento. As bases nitrogenadas podem apresentar formas isoméricas (formatos diferentes devido as suas ligações), consequentemente podendo (mas não necessariamente) resultar em modificações na sequência do DNA.

Curiosidade: o fungo Aspergillus flavus - que infecta o amendoim - secreta a substância aflatoxina B1, que interage com a base nitrogenada guanina e acarreta em danos na replicação.

Os genes são regiões codificantes do DNA, que podem originar um RNA ou uma proteína. Já discutimos que as proteínas são os operários e ostijolos dos seres vivos. Os RNAs apresentam importantíssimas funções, inclusive participam da produção de proteínas (tradução). Uma alteração no DNA possivelmente vai resultar numa alteração no seu produto de RNA ou proteína.

Tipos de mutações


As mutações podem ser classificadas em alguns tipos, mas para isto terei que abordar com certa brevidade o código genético. Porém este assunto será discutido com mais profundidade futuramente.

O DNA é transcrito em RNA. O RNA é lido em trincas, ou seja, de três em três nucleotídeos – conhecidos como códons - para formar as proteínas. Existem 64 códons possíveis, pois temos 4 bases nucleotídicas: A, U, C e G no RNA; e como foi dito acima, os códons são lidos em sequências de 3 nucleotídeos, logo 43 = 64 códons.

Cada códon corresponde a um aminoácido. No entanto, existem 20 aminoácidos e 64 códons... Como a Evolução resolveu este problema? De uma forma simples: um aminoácido pode ser correspondido por mais de um códon. Abaixo segue a tabela de correspondência do aminoácido para o seu(s) códon(s).

         Tabela 1 - Correspondência entre aminoácidos e os seus códons.

Como é possível observar, os códons que correspondem ao aminoácido Valina são GUU, GUC, GUA e GUG. Um aminoácido sendo correspondido por quatro códons. Porém, o aminoácido Metionina é correspondido somente pelo códon AUG. Desta forma, dizemos que o código genético é redundante.
Figura 1 - Representação de dois códons com suas bases nitrogenadas.

O código genético também é não ambíguo, o que significa que um códon só pode ser somente de um aminoácido. O códon AUG só resulta na Metionina, já o CCU resulta somente na Prolina.

A partir destas características do código genético, podemos classificar as mutações em: pontuais, adições ou deleções. A também. O que isso significa: Abaixo irei escrever uma molécula hipotética de DNA para facilitar o entendimento.

5’ AUG CCG GUC GUU AAU UAG 3’
3’ UAC GGC CAG CAA UUA AUC 5’

Respeitando o modelo de complementariedade de Watson e Crick, temos um DNA de fita dupla. Vamos assumir que a linha de sentido 5’ – 3’ seja a fita molde. Os seus aminoácidos correspondentes que formarão a proteína são: metionina, prolina, valina, valina, asparagina e códon de terminação da matriz de leitura (NOTA: assim como AUG indica o início da tradução, existem códons que indicam o final). Agora, imagine que você tem uma mutação no primeiro nucleotídeo do quinto códon: de AAU passou a ser UAU. Antes o aminoácido era asparagina e agora é tirosina. Há de concordar comigo que agora a proteína passou a ter possivelmente uma forma e função diferente.

Este é um exemplo de mutação pontual não-sinônima, pois houve a alteração de um aminoácido.
A mutação também pode ser neutra. Imagine que no quarto códon GUU houve uma mutação para GUA. Este novo códon ainda corresponde ao mesmo aminoácido antes da mutação, portanto não há alteração na estrutura da proteína.

As inserções e deleções ocorrem quando há a adição e a perda de um nucleotídeo, respectivamente. Estas podem acarretar em mudanças na matriz de leitura, ou seja, a partir de onde teve a mutação alterar toda a sequência de aminoácidos.

Inserção                                                              Deleção
5’ AUG ACC GGU CGU UAA UUA G 3’   e       5’ AUG CCG GUC GUU AUU AG 3’

metionina, treonina, glicina, arginina, final/ metionina, prolina, valina, valina, isoleucina.

Note que no exemplo de inserção, houve a adição de uma adenina no segundo códon, o que alterou completamente a sequência de aminoácidos. Desta forma, houve uma mutação por mudança da matriz de leitura. Já na deleção, houve a retirada de uma adenina no penúltimo códon. A sua consequência além de alterar o aminoácido do códon onde houve a deleção, também alterou o códon seguinte que corresponderia ao códon de termino de leitura, logo houve mutação sem sentido, pois agora a leitura do RNAm ocorrerá até encontrar um códon de término (ressaltando que foi exemplificado um pedaço de uma molécula de DNA até um códon de termino, mas a fita continua).

Bom, é isso aí. Ficou um pouco extenso, mas tentei sintetizar o máximo sem omitir informações imprescindíveis. A parte 2 tratará da importância da mutação para a Evolução.

Bibliografia:

MATIOLI, S. R.; FERNANDES, F. M. C. (2012) Biologia Molecular e Evolução. 2a edição. Holos Editora: Ribeirão Preto.

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