domingo, 12 de junho de 2016

Genética Populacional - Populações Ideais e Endocruzamento

As frequências, ou proporções, ideias alélicas e genotípicas numa população são definidas pela Lei de Hardy-Weinberg, também chamada de Lei do Equilíbrio (na área de ecologia).
A equação determina que a frequência alélica seja o valor obtido por:
Número de cópias do alelo na população/ número de cópias desses genes na população.

Vamos brincar com um exemplo:
Imagine um gene para os alelos "A" e "a" numa população de lobos.


Há três genótipos possíveis: AA, Aa e aa. Com um estudo de marcadores numa amostra da população, você descobriu que há 36 indivíduos AA, 48 Aa e 16 aa.   Se somar a quantidade de indivíduos, pode-se contar 100. Última coisa a se fazer para se saber a frequência genotípica observada é a divisão. 48/ 100= 0,48 (AA);36/ 100= 0,36 (Aa) e 16/100= 0,16 (aa). É importante comentar que a soma das frequências genotípicas têm de dar 1 e qualquer valor diferente indica alguma coisa errada nos cálculos.

As frequências alélicas também são mensuradas através dessa amostragem de marcadores. Por exemplo: A quantidade de alelos A para os 48 indivíduos AA é 96 (48 do primeiro A e 48 do segundo A para todos esses indivíduos), para os 36 Aa é 36 (36 direto da metade do genótipo desses indivíduos) e nenhum para os 16 aa, finalizando em 132 alelos A na população. Seguindo o mesmo raciocínio, encontra-se 68 alelos a. Vamos lembrar que são 100 indivíduos nessa população e cada tem 2 alelos em seus genótipos, totalizando 200 alelos desse gene nessa população. Se dividirmos 132/200 e 68/200, conseguimos os valores das frequências alélicas para A (0,66) e a (0,34). 

A Lei do Equilíbrio é utópica e não real. Ah então tudo isso que vi foi inútil?! Tenha calma... Essa regra determina como visto acima, proporções ideais. Essa utopia é para populações muito grandes (que não ocorrem no meio natural por questões de sobrevivência), sem seleção natural ou sexual e até mesmo sem mutação.  Entretanto, sabemos que essas coisas ocorrem no ambiente natural. Para compreender a aplicação desses cálculos, precisamos transformar as frequências alélicas em probabilidades p=A e q (1-p)= a

Agora voltamos a nosso exemplo. O ideal de proporção genotípica é finalmente encontrado por mais um cálculo (mais um?!). Se A= 0,66 e a= 0,34, temos que a porcentagem de indivíduos AA para esse gene numa população ideal é de 0,66 x 0,66 = 0,4356 ou seja 43,56%; 44,88 % de Aa (2 x 0,66 x 0,34= 0,4488) e 11,56 % de aa ( 0,34 x 0,34= 0,1156). Se somarmos as porcentagens encontramos 100 % e qualquer valor diferente indica, meu querido amiguinho, um erro de cálculo.   
Como visto acima, a Lei de Hardy-Weinberg está relacionada a um ambiente utópico, com seleção sexual aleatória. Isso não ocorre em população alguma.
Fonte: Butterflies of America

Borboletas Morpho selecionam seus pares pelo território, onde os entomólogos percebem que os machos são territoriais e agressivos, inclusive com roupas de cetim azuladas (pois é, eles voarão em tua direção se for com uma roupa assim na floresta). Nesse caso os genes ligados a metabolismos mais rápidos são os que mais persistem na população.


Chega de exemplos... Pode acontecer de essa seleção sexual gerar endocruzamento e um indivíduo aa fazer par com outro aa, e consequentemente, alterando a Lei do Equilíbrio e diminuindo o número de heterozigotos. Quando semelhantes se reproduzem diz-se acasalamento seletivo positivo e quando diferentes diz-se negativo.
Essa Lei , quando alterada, indica que está havendo endocruzamento numa população. Como?
Há outra fórmula (juro que é a última de hoje) que define o coeficiente de endocruzamento.
Onde:
F= coeficiente de endocruzamento.
H.hwe= frequência genotípica de heterozigotos ideal.
H.obs= frequência genotípica de heterozigotos observada.

Em nossa população de lobos estudada, a frequência ideal de heterozigotos é de 0,4488. Tu decides fazer coleta , sei lá, no ano seguinte e mensurando, via marcadores gênicos, descobre uma frequência genotípica de heterozigotos observada de 0,2244, no ano depois 0,8976 e por fim 0,3366.
Ano 0=
Ano 1= F= 0,4488 - 0,2244/ 0,4488= 0,5.
Ano 2= F= 0,4488 - 0,8976/ 0,4488= -1
Ano 3= F= 0,4488- 0,3366/ 0,4488= 0,25.
Valores de coeficiente para os anos.

Em outras palavras, quanto mais heterozigotos observados, menor será o coeficiente e vice-versa. Nos anos 1 e 3 (principalmente 1) há maior risco de que genes deletérios, compartilhados pelos homozigotos causem dano a população, gerando a depressão por endocruzamento. 
Nossa população de lobinhos no gráfico.

Quando a reprodução ocorre entre primos os valores de coeficiente de endocruzamento indicam 0,125, entre irmãos, de 0,25 e autocruzamento é de 0,5. Em nossa brincadeira, a população teve muitos autocruzamentos no Ano 1 e relacionamento entre primos no Ano 3. Esses valores sozinhos não dizem muito, mas, quando juntos de uma avaliação por bioindicadores, pode me dizer, por exemplo, se está havendo fragmentação de habitat e mais reproduções entre semelhantes ou se esta dispersando e mais entre diferentes.
Apesar disso tudo, o endocruzamento não é o único fator associado a perda de variabilidade. Veremos a seguir, a que forças invencíveis uma população está vulnerável em meio natural.

Referências:

RICKLEFS, R.E. 2010. A Economia da Natureza. 6ª ed. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro.

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