Vimos nos tópicos de Genética Populacional os fatores que
contribuem ou não para a variabilidade dentro de uma espécie e entre espécies,
no entanto, chegou o momento de colocarmos isso no contexto história. Como isso
se aplica ao longo do tempo? Como ocorre a evolução? A resposta para essas
perguntas se encontra em outro mistério que é, ainda mais profundo, a especiação.
É necessário esclarecer que seleção
natural e especiação são coisas distintas, sendo a segunda um possível
produto da primeira.
Sobre o local onde há especiação, é comum vermos em artigos
ou livros alguns termos. Especiação alopátrica
é aquela que é produto de isolamento geográfico (no caso de subpopulações)
e simpátrica quando ocorre numa mesma
região.
Na imagem acima temos um exemplo de especiação alopátrica.
Em A temos uma população com certa diversidade genética e de A para B, ocorre um
fenômeno chamado vicariância (que é
quando surge uma barreira natural que separa os indivíduos de uma população,
como oceanos, montanhas, etc), produzindo duas subpopulações que sofrem
pressões ambientais diferentes. Em C, a barreira natural desaparece e esses
grupos se reencontram, mas, já não conseguem cruzar. Quando uma população grande se ramifica em
outras menores e aí sofre especiação usa-se o termo de cladogênese, e quando o grupo inteiro muda é alogênese.
A formação das raças, ou linhagens, é chamada de subespeciação. Elas comumente ocorrem
por longos isolamentos reprodutivos entre subpopulações, onde tanto deriva como
seleção atuam, direcionando aquele grupo para uma direção ou outra e podem
acabar por criar novas espécies.
Fig – um exemplo de subespeciação. Pachycephala pectoralis nas Ilhas Salomão.
A partir do momento que isso ocorre, é fácil de pensar que
os indivíduos de subpopulações diferentes terão comportamentos diferentes,
adaptadas a cada ambiente. A seleção natural atuará sobre esse comportamento,
filtrando estruturas que aumentem o valor adaptativo. Esse gradiente do quão
distante pode estar o modo de uma estrutura entre os indivíduos de uma espécie
é chamado de deslocamento de
características. Podemos exemplificar isso com os tentilhões de Darwin e
seus bicos (um fato melhor revisado nessa publicação).
Além da subespeciação, outros eventos formam espécies, como
a Lei de Gause. Essa regra afirma
que quando há duas espécies que tiveram evolução convergente habitantes do
mesmo local, ambas têm de compartilhar os recursos a que estão relacionadas.
Eventualmente isso forçará uma das duas, ou as duas a preencherem partes
diferentes do mesmo nicho, ou quando isso não ocorre, utilizarem do recurso em
momentos diferentes, como morcegos e aves. Vemos isso atualmente, e
tristemente, com os marsupiais da Austrália, que quando não são extintos pelo
homem, o são por felinos com os quais competem nos nichos ecológicos. Muito
provavelmente os marsupiais que persistirem serão bem diferentes de seus
ancestrais.
Embora tenha esse nome, o Tigre-da-Tasmânia é um marsupial.
Falando em famílias diferentes, Felidae e Mustelidae, e
quanto a esses grupos maiores? Familias e classes, também estão sujeitas a essa
filtração. Já notou que não vemos marsupiais nos pólos ou por que cucurbitáceas
(a família vegetal da melância) estão em todos os continentes? Quando ampliamos
a ideia do nicho para além da espécie, surgem os hábitos e características
sistemáticas, como dentes de roedores e antenas de lepidópteros. A gama desses
fenômenos relacionados a distribuição, etologia, morfologia e fisiologia de
grandes grupos de seres vivos é chamada de zona
de adaptação. Equídeos, por exemplo, de um tempo para cá, são todos
pastadores, usam de três dedos para se sustentar e provavelmente pereceriam em
ambientes com um restrito limite de plantas. Se ao longo da história da Terra,
essas características foram convergindo de ancestrais diferentes que hibridaram
(origem parafilética), na chamada
transformação alógena, ou são um reflexo de um único ancestral (origem monofilética), apenas a
paleoecologia pode nos dizer.
De um modo geral, pesquisas sobre o tema são muito
interessantes ao fornecer base para hipóteses sobre como uma espécie veio a ser
como é ou que rumo poderá tomar no futuro. Quem sabe se você pesquisar algo do
tipo faça uma grande descoberta sobre o passado ou dá uma mãozinha para os
ambientalistas que querem proteger uma região?! Abraços.
MOODY, P. A. Introdução
à evolução. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1975.
RAMALHO, M. A. P. et al. Genética na Agropecuária. 5 ed. Lavras: Universidade Federal de
Lavras, 2012.
SNUSTAD, D. P. & SIMMONS, M. J. Principles of genetics. 6 ed. Hoboken: John Wiley & Sons, 2012.
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