domingo, 4 de setembro de 2016

Especiação - uma síntese

Vimos nos tópicos de Genética Populacional os fatores que contribuem ou não para a variabilidade dentro de uma espécie e entre espécies, no entanto, chegou o momento de colocarmos isso no contexto história. Como isso se aplica ao longo do tempo? Como ocorre a evolução? A resposta para essas perguntas se encontra em outro mistério que é, ainda mais profundo, a especiação. É necessário esclarecer que seleção natural e especiação são coisas distintas, sendo a segunda um possível produto da primeira.
Sobre o local onde há especiação, é comum vermos em artigos ou livros alguns termos. Especiação alopátrica é aquela que é produto de isolamento geográfico (no caso de subpopulações) e simpátrica quando ocorre numa mesma região.


Na imagem acima temos um exemplo de especiação alopátrica. Em A temos uma população com certa diversidade genética e de A para B, ocorre um fenômeno chamado vicariância (que é quando surge uma barreira natural que separa os indivíduos de uma população, como oceanos, montanhas, etc), produzindo duas subpopulações que sofrem pressões ambientais diferentes. Em C, a barreira natural desaparece e esses grupos se reencontram, mas, já não conseguem cruzar.  Quando uma população grande se ramifica em outras menores e aí sofre especiação usa-se o termo de cladogênese, e quando o grupo inteiro muda é alogênese.
A formação das raças, ou linhagens, é chamada de subespeciação. Elas comumente ocorrem por longos isolamentos reprodutivos entre subpopulações, onde tanto deriva como seleção atuam, direcionando aquele grupo para uma direção ou outra e podem acabar por criar novas espécies.


Fig – um exemplo de subespeciação. Pachycephala pectoralis nas Ilhas Salomão.

A partir do momento que isso ocorre, é fácil de pensar que os indivíduos de subpopulações diferentes terão comportamentos diferentes, adaptadas a cada ambiente. A seleção natural atuará sobre esse comportamento, filtrando estruturas que aumentem o valor adaptativo. Esse gradiente do quão distante pode estar o modo de uma estrutura entre os indivíduos de uma espécie é chamado de deslocamento de características. Podemos exemplificar isso com os tentilhões de Darwin e seus bicos (um fato melhor revisado nessa publicação).
Além da subespeciação, outros eventos formam espécies, como a Lei de Gause. Essa regra afirma que quando há duas espécies que tiveram evolução convergente habitantes do mesmo local, ambas têm de compartilhar os recursos a que estão relacionadas. Eventualmente isso forçará uma das duas, ou as duas a preencherem partes diferentes do mesmo nicho, ou quando isso não ocorre, utilizarem do recurso em momentos diferentes, como morcegos e aves. Vemos isso atualmente, e tristemente, com os marsupiais da Austrália, que quando não são extintos pelo homem, o são por felinos com os quais competem nos nichos ecológicos. Muito provavelmente os marsupiais que persistirem serão bem diferentes de seus ancestrais.

Embora tenha esse nome, o Tigre-da-Tasmânia é um marsupial.

Falando em famílias diferentes, Felidae e Mustelidae, e quanto a esses grupos maiores? Familias e classes, também estão sujeitas a essa filtração. Já notou que não vemos marsupiais nos pólos ou por que cucurbitáceas (a família vegetal da melância) estão em todos os continentes? Quando ampliamos a ideia do nicho para além da espécie, surgem os hábitos e características sistemáticas, como dentes de roedores e antenas de lepidópteros. A gama desses fenômenos relacionados a distribuição, etologia, morfologia e fisiologia de grandes grupos de seres vivos é chamada de zona de adaptação. Equídeos, por exemplo, de um tempo para cá, são todos pastadores, usam de três dedos para se sustentar e provavelmente pereceriam em ambientes com um restrito limite de plantas. Se ao longo da história da Terra, essas características foram convergindo de ancestrais diferentes que hibridaram (origem parafilética), na chamada transformação alógena, ou são um reflexo de um único ancestral (origem monofilética), apenas a paleoecologia pode nos dizer. 
De um modo geral, pesquisas sobre o tema são muito interessantes ao fornecer base para hipóteses sobre como uma espécie veio a ser como é ou que rumo poderá tomar no futuro. Quem sabe se você pesquisar algo do tipo faça uma grande descoberta sobre o passado ou dá uma mãozinha para os ambientalistas que querem proteger uma região?! Abraços.

MOODY, P. A. Introdução à evolução. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1975.
RAMALHO, M. A. P. et al. Genética na Agropecuária. 5 ed. Lavras: Universidade Federal de Lavras, 2012.

SNUSTAD, D. P. & SIMMONS, M. J. Principles of genetics. 6 ed. Hoboken: John Wiley & Sons, 2012.

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